LOVE SONG

MENSAGENS DE AMOR

12 de mar. de 2009

MULHERES POSSÍVEIS...


'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas,
se você quer saber se isso é possível,
me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa
fazer, como boa profissional, mãe e mulher
que também sou: trabalho todos os dias,
ganho minha grana, vou ao supermercado
três vezes por semana, decido o cardápio
das refeições, levo os filhos no colégio e busco,
almoço com eles, estudo com eles, telefono
para minha mãe todas as noites, procuro
minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema,
pago minhas contas, respondo a toneladas
de e-mails, faço revisões no dentista,
mamografia, caminho meia hora diariamente,
compro flores para casa, providencio os
consertos domésticos, participo de eventos
e reuniões ligados à minha profissão e ainda
faço escova toda semana - e as unhas!
e, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja,
aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer
NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer
NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou
a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo
que a partir daquele momento você seria modelo
para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa
expectativa: tudo o que desejaram é que você não
chorasse muito durante as madrugadas e mamasse
direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher.
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se
divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada,
não é ser sempre politicamente correta, não é
topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender
a todos e criar para si a falsa impressão de ser
indispensável.
É ter tempo.
Tempo para fazer nada.
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é
consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe
se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você
pode ser perfeitamente organizada e profissional
sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por
um relógio de ponto ou pela quantidade de
memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga.
Acredita que, se não for super, se não for mega,
se não for uma executiva ISO 9000,
não será bem avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para
não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar
cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente
do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy
e muito mais livre para ir e vir.
Desde que lembre de separar alguns bons
Momentos da semana para usufruir essa
independência, senão é escravidão, a mesma
que nos mantinha trancafiadas em casa,
espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada,
o hotel decorado pelo Philippe Starck
e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo
para ter tudo isso, francamente,
está precisando rever seus valores.
E descobr ir que uma bolsa de palha, uma
pousadinha rústica à beira-mar e o rosto
lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem
ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma
nova perspectiva sobre o que é, afinal,
uma vida interessante'.
Martha Medeiros

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