Martha Medeiros
Quando a gente conhece uma pessoa, construímos uma imagem.
A imagem tem a ver com as nossas expectativas e mais ainda com o queela "vende" de si mesma.
É pelo resultado disso tudo que nos apaixonamos.
Se a pessoa for parecida com a imagem que projetou em nós, desfazer-se dela, mais tarde, não será tão penoso.
Restará a saudade, talvez uma pequena mágoa, mas nada que resista por muito tempo.
No final, sobreviverão as boas lembranças.
Mas se esta pessoa "inventou" um personagem e você acreditou, virá um processo mais lento: a de desconstrução daquilo quevocê achou que era real.
Desconstruindo Ana, desconstruindo Marcos, desconstruindo Carla.
Milhares de pessoas vivem seus dias aparentemente numa boa, mas por dentro estão "desconstruindo ilusões".
Tudo porque se apaixonaram por uma fraude, não por alguém autêntico.
Ok, é natural que, numa aproximação, a gente "venda" mais nossas qualidadesque defeitos.
Ninguém vai iniciar uma história dizendo: muito prazer, eu sou arrogante, preguiçoso e cleptomaníaco.
Nada disso, é a hora de fazer charme.
Uma vez o romance engatado, aí as defesas são postas de lado e a gentemostra quem realmente é, nossas gracinhas, manias e imperfeições. Isso se formos honestos.
Os desonestos são aqueles que fabricamidéias e atitudes, até que um dia cansam da brincadeira, deixam cair a máscara e o outro fica ali, sem entender absolutamente nada.
Quem se apaixonou por uma mentira, tem que desconstruí-la para"desapaixonar".
É um sufoco.
Exige que você reconheçaque foi seduzido por uma fantasia, que você é capaz de se deixar confundir,que o seu desejo é mais forte do que sua astúcia.
Significa encarar que alguém por quem vocêdedicou um sentimento bacana não chegou a existir, que tudo não passou deuma representação.
Talvez até não tenha sido por mal,pode ser que esta pessoa nem conheça a si mesma, por isso ela se inventa.
Sorte quando a gente sabe com quem está lidando: mesmo que venha a desamá-loum dia, tudo o que foi construído se manterá de pé.
Afinal, todos, resistimos muito a aceitar que alguém que gostamos não é, e nem nunca foi, ESPECIAL.
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