Maristela Rodrigues
Está sobrando auto-estima?
Esta pergunta foi feita por Camilo Vannuchi,
repórter da Revista “Isto É” ao conhecido
médico psiquiatra Roberto Shinyashiki.
A temática da entrevista era a super
valorização da aparência contrapondo-se
ao ser e ter.
Nada mais é do que pessoas que precisam
parecer algo, talvez porque não consigam
ser algo. Profissionais de multinacionais
cheios de pseudo auto-estima, passando
uma imagem de super-heróis, perfeitos
e incrivelmente satisfeitos.
Que loucura é essa?
Há pouco tempo, a discussão girava em
torno do “ser” e “ter”. Agora o importante
é parecer!
Exemplos para isso: aprendemos como
nos portar em todas as situações, como
respondermos numa entrevista, de que
forma agirmos como profissionais de
sucesso, como sermos uma família
feliz, etc, etc.
De certa forma, muitos de nós passamos
a interpretar, assim como os atores e
atrizes, seguimos um script. E tornamo-
nos arrogantes, pretensiosos, cheios de
nós mesmos. Mas isso é marketing pessoal,
dirá alguém. Para mim parece mais um
teatro. Quer sair-se bem numa entrevista
de emprego? Diga aquilo que o executivo
quer ouvir. Se convencê-lo será contratado,
não importa se você estiver fingindo ou
apenas teatralizando.
A simplicidade da vida e a coragem de assumir
os erros e as próprias limitações em todas
as esferas, não anda em moda neste tempo
presente. Quanto mais nos conhecemos,
mais nos escondemos. Quantos se apropriam
de sonhos alheios, pensando serem os seus
quase que insignificantes.
Bem disse uma doutora em educação que
ouvi palestrar, no século XX as pessoas
lutaram para viver, no século XXI as pessoas
buscarão ansiosamente pelo que viver.
É a era das ONGs e entidades assistenciais
e as profissões que cuidam das pessoas
serão extremamente valorizadas. Tentando
parecer aquilo que a sociedade em geral
deseja (ou impõe insistentemente) que
sejamos, realmente precisaremos cada vez
mais de ajuda. A depressão está aí para
contar a história. Isso não pode ser assim.
“Heróis de verdade são aqueles que trabalham
para realizar seus projetos de vida, e não
para impressionar os outros. São pessoas
que sabem pedir desculpas e admitir que
erraram”, diz Shinyashiki. Não somos super-
heróis nem fracassados, somos seres humanos
que acertam e erram, choram e riem, caem
e levantam. É preciso aceitar isso.
Nessa mesma entrevista Shinyashiki fala sobre
três fraquezas que fragilizam o ser humano e o
fazem submeter-se à tirania da aparência: A
primeira é precisar de aplauso, trocando em
miúdos, para sermos aplaudidos precisamos
ser alguma coisa e se não somos, pelo menos
temos que parecer ser.
A segunda é precisar se sentir amado. Todos
precisamos disso, mas nos ensinaram que para
sermos de fato amados, temos que fazer algo
ou sermos bondosos, bons alunos, bons filhos,
bons maridos e esposas, enfim, se falharmos,
as pessoas não nos amarão. A terceira é buscar
segurança e não importa que o nosso cão seja
manso, o importante é que ele pareça uma
fera no portão de nossa casa.
Espero não tê-lo chocado, mas desejo muito
que uma luz tenha se acendido dentro de você e,
mesmo que por um breve momento, o desejo
de não viver torturado pela aparência tenha
sido germinado, se é que já não brotou e só
precisa de água fresca e sol para crescer.