LOVE SONG

MENSAGENS DE AMOR

13 de dez. de 2008

FONTE DE VIDA


(...) Mas tu, com os teus braços de raiz aérea,
puxas-me para esse cimo de montanha onde
o silêncio se transforma em sílaba – a sílaba
inicial do mundo, a interrogação do gesto
nascente de todas as origens, o soluço de um
suicídio de murmúrios, percorrido pela única
percepção inútil: a da vida que se esvai no
instante do amor. E encostamo-nos à pedra
abstracta do horizonte. A que nos deixou sem
voz quando as grutas do litoral se abriram;
para que a pedra nos beba, gota a gota, todo
o sangue. Então, é nas suas veias que correm
as nossas pulsações. E afastamo-nos, devagar,
para que a terra viva através de nós uma
existência puramente interior, despida do
fulgor animal das manhãs. Sentamo-nos no
mais longínquo dos quartos, de janelas fechadas,
e abraçamo-nos com um rumor de primaveras
clandestinas, com o inverno nos olhos.
NUNO JÚDICE
In A Fonte da Vida (excertos), 1997

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