LOVE SONG

MENSAGENS DE AMOR

3 de nov. de 2008

A Morte Devagar


Martha Medeiros

Morre lentamente quem não
troca de idéias, não troca de
discurso, evita as próprias
contradições.

Morre lentamente quem vira
escravo do hábito, repetindo
todos os dias o mesmo trajeto
e as mesmas compras no
supermercado. Quem não troca
de marca, não arrisca vestir uma
cor nova, não dá papo para quem
não conhece.

Morre lentamente quem faz da
televisão o seu guru e seu parceiro
diário. Muitos não podem comprar
um livro ou uma entrada de cinema,
mas muitos podem, e ainda assim
alienam-se diante de um tubo de
imagens que traz informação e
entretenimento, mas que não deveria,
mesmo com apenas 14 polegadas,
ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma
paixão, quem prefere o preto no
branco e os pingos nos is a um
turbilhão de emoções indomáveis,
justamente as que resgatam brilho
nos olhos, sorrisos e soluços, coração
aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a
mesa quando está infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto
atrás de um sonho, quem não se permite,
uma vez na vida, fugir dos conselhos
sensatos.

Morre lentamente quem não viaja,
quem não lê, quem não ouve música,
quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu
amor-próprio. Pode ser depressão,
que é doença séria e requer ajuda
profissional. Então fenece a cada
dia quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente quem não trabalha
e quem não estuda, e na maioria das
vezes isso não é opção e, sim, destino:
então um governo omisso pode matar
lentamente uma boa parcela da
população.

Morre lentamente quem passa os dias
queixando-se da má sorte ou da chuva
incessante, desistindo de um projeto
antes de iniciá-lo, não perguntando
sobre um assunto que desconhece e
não respondendo quando lhe indagam
o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta
é a morte mais ingrata e traiçoeira,
pois quando ela se aproxima de verdade,
aí já estamos muito destreinados para
percorrer o pouco tempo restante. Que
amanhã, portanto, demore muito para
ser o nosso dia. Já que não podemos
evitar um final repentino, que ao menos
evitemos a morte em suaves prestações,
lembrando sempre que estar vivo exige
um esforço bem maior do que
simplesmente respirar.

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