Para alguém sou o lírio entre os abrolhos
e tenho as formas ideais do Cristo;
para alguém sou a vida e a luz dos olhos,
e, se na terra existe, é porque existo.
Esse alguém, que prefere ao namorado
cantar das aves minha rude voz,
não és tu, anjo meu idolatrado,
nem, meus amigos, é nenhum de vós!
Quando alta noite me reclino e deito
melancólico, triste e fatigado,
esse alguém abre as asas no meu leito,
e o meu sono desliza perfumado.
Chovam bênçãos de Deus sobre a que chora
por mim, além dos mares! Esse alguém
é de meus olhos a esplendente aurora:
és tu, doce velhinha, ó minha mãe!
(Gonçalves Crespo)
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