Não há um instante.
Não há um momento.
Nem o suave sussurro da brisa.
Nem as saudades que sobraram
De andanças antigas,
Me deixam esquecer
Que sou vento. Que sou terra.
Que sou canto.Que sou quimera!
Que tenho no corpo o cheiro da noite.
Nos lábios o gosto do mato.
Nas entranhas, o mel silvestre,
E no olhar orvalhado trago o
Doce e meigo luar do sertão!
Sou humilde flor pequenina
Que se abre pela manhã
À espera do sol
P'ra desabrochar seu amor!
Sou o sertão.
Sou o sabiá que canta
No galho da mangueira.
Sou a chuva que pinga e respinga
Molhando a terra seca
Que faz florescer a roseira!
Sou o cheiro da terra molhada,
Da fantasia alucinante,
Dos rios, cascatas, pântanos,
Sou o verso único e maior
do poeta sonhador!
Sou a mentira. O sonho. A ilusão.
Sou a verdade da lágrima
No bom dia que raia!
Sou a canção de ninar.
Sou a agulha do bordado.
Sou a broa quentinha,
Sou o fogo no chão,
Sou paixão.
Sou o teu lugar vazio.
Sou a melancolia.
Sou a ausência total
Dos movimentos e de vozes!
Sou companheira. Sou parceira.
Que mais queres de mim,
Se já sou tu e não eu?
E na saudade que nos afasta
Sou a lembrança
Dos sonhos mais íntimos!
Delasnieve Daspet
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