LOVE SONG

MENSAGENS DE AMOR

1 de jan. de 2012

O tempo e as jabuticabas


'Contei meus anos e descobri
que terei menos tempo para viver
daqui para frente
do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquela
menina que ganhou
uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ela chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas,
rói o caroço.

Já não tenho tempo
para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões
onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos
tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares,
talentos e sorte.

Já não tenho tempo
para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências
que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana
com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo
para reuniões intermináveis
para discutir estatutos, normas,
procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo
para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica,
são imaturos.

Não quero ver os ponteiros
do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde
'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação
de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário
geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário
de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos,
apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso
para debater rótulos,
quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia,
quero viver ao lado de gente
humana, muito humana;
que sabe rir de seus tropeços,
não se encanta com triunfos,
não se considera eleita antes da hora,
não foge de sua mortalidade,
defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente
andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas
e pessoas de verdade,
desfrutar desse amor
absolutamente sem fraudes,
nunca será perda de tempo.'
O essencial
faz a vida valer a pena.
Rubem Alves

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