Quantas profundezas há no humano
E quantas delas são máscaras
Quanto disso é escudo
Quanto disso é carne viva
Quanta dor é cena
Quanto é aço real
Enfrente cada máscara
Enfrente cada máscara
Desafie cada profundeza
Aponte o meu abrigo
Quebre minhas muletas
Encontre o ponto fraco
Analise meus complexos
Destaque a inconsistência
Confirme a veracidade
Catalogue as mentiras
Traduza a mente
Refaça a ordem
Articule relações
Em preto e branco
A solução do enigma
Diga onde está o refúgio
Diga onde está o refúgio
Ilumine meus recônditos
Exponha meus medos
Desmantele as certezas
Refaça minhas dúvidas
Realce o evasivo
Em cada máscara
Explique seu reflexo
Em cada cor do sentir
Exponha uma existência
Até o abismo infinitesimal
Que remete ao meu âmago
Como um frio na espinha
Um além-das-aparências
Distinga as entrelinhas
Delineie as nuances
E nelas perceba as portas
Invente as suas chaves
Equacione meu tesouro
E me revele a solução
Pulsando na vivência
Esquecida num quarto
Silente como uma criança
Triste, suja e cansada
Sem que haja abrigo
Nos braços da solidão
Onde só sobrevive esperança
Misturada ao pó e às lágrimas
Esperando uma chance de falar
Pela boca de outrem
II
Sou os atos de uma mente
II
Sou os atos de uma mente
[vivaIgualmente verdadeiros
E igualmente falsos
Defina a profundeza
Deste meu embate
Olhe nos meus olhos
Olhe nos meus olhos
Não sou um espelho
Não sou suas verdades
Desvie o olhar e pense
Respire e diga algo real
Mostre minha realidade
[humana
Aponte e não diga mais nada
Dispenso as razões da mentira
Dispenso as razões da verdade
Estou farto de vísceras
Estou farto de vísceras
Essências de máquinas
Explicações e óticas
E mentiras profundas
Quem passou por mim
Quem passou por mim
[passou através
Quem pensou me decifrar
[fez o enigma
Quem revolveu minhas máscaras
[não viu vulto
Quem explicou minha profundeza
[fez o abismo
Quem não sente o pulsar plano
Quem não sente o pulsar plano
E o sensível discorrer no raso
Sequer adivinha a riqueza
[da superfície
Em que o viver se derrama
Como a realidade de sentir-se fluir
[no agora
Como uma profusão vivaz
[aos olhos
Como uma sobrecarga
[aos nervos
Como uma intensidade real
[à menteComo uma verdade fatal
[ao medo
Amordace sua vaidade
Amordace sua vaidade
[erudita
Antes que ela resmungue
O sancta simplicitas!
Guarde suas abstrações
A quem vive em escuridões
[metafísicas
E se lhe aprouver
Faça-se esquecer
Que tentou ver
E não veja que viu
André Díspore Cancian
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